16 de agosto de 2011

Salutar

Julho, 2011. A história abaixo foi baseada em fatos reais e construída na observação de uma cena de angústia e de esperança. Eu estava lá...

A mão que aconchegou o bebê é a mesma que retira o terço envelhecido do bolso e começa a balbuciar uma Ave Maria em compasso. Ela está sentada em um corredor movimentado por macas, pessoas e pela incerteza. A filha atravessa a porta cinza para encontrar com o bisturi e com as mãos treinadas (e talvez, milagrosas) de um homem vestido de verde, a cor da esperança. Estamos em um hospital. O silêncio deste lugar se contrasta com as batidas aceleradas do coração da mãe que compartilha a dor com a filha:

- O meu Deus, quando será que a minha filha vai ser feliz? Ajuda para que essa dor possa passar com a cirurgia.

Os olhos se encheram de lágrimas e aflitas, elas escaparam pelo rosto cansado e abatido da mãe preocupada. Ela precisava pelo menos chorar. Talvez aquele ato fosse o de maior libertação nos últimos 15 dias, quando se dedicara inteiramente a ouvir os prantos de dor da sua carne e em troca, esbanjar um sorriso como se tudo estivesse bem. Um sorriso de fé e confiança, desses que só mãe sabe dar.

Apreensiva, ela alternava as contas do terço a conversas diretas com o seu Deus. Quem olhava para ela, internamente se perguntava: O que se passa na cabeça dessa mulher? O que ela está pensando neste momento? Como está o seu coração? Respostas difíceis e complicadas de serem respondidas.

A mulher que no passado fugiu pelo amor, encontra-se amparada por uma força maior que o seu coração. Não é heroína grega, mas já enfrentou mais de doze batalhas e matou mais de um leão pelas suas crias. Aquela era mais uma. E no fundo, tinha a esperança que tudo terminaria bem. E assim seria.

Foi um pouco mais de 30 minutos que a tiraram da Terra, mas que a trouxeram de volta com um gesto que vinha do início daquele corredor. Por detrás do vidro, o médico fez um aceno e a chamou para explicar como havia sido o procedimento cirúrgico. Um suspiro. Uma evocação. Um Graças a Deus.

O suspiro se transformara em euforia. Ver aquela mulher e seus (pequenos grandes) gestos me emocionou profundamente. Ela representava um amor tão próprio e tão significante que eu não imaginava que existisse. Ela me ensinou o que é o amor por aquilo que se tem, o valor por aquilo que se ganha e a perseverança por aquilo que se espera. Perseverança que se traduzia numa fé inesgotável, numa confiança inabalável e em um amor sem medidas. Um amor que transcende o existencial. Uma vida dedicada por outra.

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