27 de julho de 2010

Palavra Viva

Hoje eu estava sem ideia para escrever, mas queria postar. É uma relação de fidelidade com o blog e com os leitores da qual eu não abro mão, a não ser por motivos justos. Cecília Meireles faz as vezes para mim no post de hoje.
Um cão, apenas - Cecília Meireles

Subidos, de ânimo leve e descansado passo, os quarenta degraus do jardim – plantas em flor, de cada lado; borboletas incertas; salpicos de luz no granito eis-me no patamar. E a meus pés, no áspero capacho de coco, à frescura da cal do pórtico, um cãozinho triste interrompe o seu sono, levanta a cabeça e fita-me. É um triste cãozinho doente, com todo o corpo ferido; gastas, as mechas brancas do pêlo; o olhar dorido e profundo, com esse lustro de lágrima que há nos olhos das pessoas muito idosas.

Com um grande esforço, acaba de levantar.-se. Eu não lhe digo nada; não faço nenhum gesto. Envergonha-me haver interrompido o seu sono. Se ele estava feliz ali, eu não devia ter chegado. Já que lhe faltavam tantas coisas, que ao menos dormisse: também os animais devem esquecer, enquanto dormem… Ele, porém, levantava-se e olhava-me. Levantava-se com a dificuldade dos enfermos graves, acomodando as patas da frente, o resto do corpo, sempre com os olhos em mim, como à espera de uma palavra ou de um gesto. Mas eu não o queria vexar nem oprimir.

Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento… Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica. Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens. Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.

Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto; como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era o seu.

Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.

26 de julho de 2010

Why ou Por que?

O tempo parece voar. A impressão que tenho é que os dias não são mais delimitados, fracionados e contados pelas horas. Num suspiro ou num piscar de olhos se perdem preciosos momentos, e que momentos. Deram corda no big clock e esqueceram de pará-lo. E a sensação, é a das mais estranhas possíveis. Um teatro.

"Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!
Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?
A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!"
(Arnaldo Jabor)

14 de julho de 2010

Sinal de Pontuação

Hoje eu decidi colocar ponto final nessa história. Já havia passado da hora de enterrar de vez, algo que me impedia de ser eu mesmo. Durante este tempo eu fui atrás, insisti, fingi de bobo e fui tratado aos solavancos, afinal, cuspir palavras é a coisa mais fácil que tem. Sinceramente, isso me leva a crer que sou mais do que você precisa e muito além do que você merece. Quer saber, eu vou é buscar novos ares ou simplesmente respirar onde o sopro vem a meu favor. Saio do palco de cabeça erguida e como um perdedor, que com raça, brigou até o final da luta. Para mim já deu. Eu podia jurar de pés juntos que jamais passaria por situação parecida, muito menos que ficaria nessa insistência que agora chega ao seu fim. Tomo postura, retomo minha sã e agora santa consciência para voltar a ser feliz. A verdade é simples e objetiva. Quem constrói a minha felicidade sou eu mesmo, e agora, construirei a minha bem longe dos seus olhos e principalmente dos seus domínios. Não estou lavando a alma, nem regozijando de alegria, mas tenho que me libertar de vez de você, e isso, vai acontecer para o bem ou para o mal. Eu literalmente cansei, e olha que sou duro na queda. Por agora, contente-se apenas com o meu sorriso, é o máximo que posso te oferecer.

13 de julho de 2010

Às

Não vou brigar mais. Se assim querem, assim vai ser. Chega de guerra e insistência. Tomem conta de tudo, apareçam em todo lugar. Explorem este simples mortal que, por ódio declarado, fez de tudo para enfrentá-las, mas vendo que tudo foi em vão, se cansou. Já praguejei, trovejei e senti cólera pelas marcas que vocês, ó infelizez, andam deixando. E por falar em deixar, já entreguei para o tempo. Dizem que ele cura tudo e espero que com vocês não seja diferente. Dominem. Nem remédio, nem ácido, nem nada. Malditas. Malditas espinhas.

12 de julho de 2010

A festa continua em 2014

Nem Maradonna e a sua altivez futebolística, nem a Seleção Brasiliera com o seu título de campeã por antecipação e nem a Espanha que sagrou-se vitoriosa na Copa de 2010 foram capazes de abafar, ou melhor, apagar o brilho das verdadeiras estrelas deste campeonato mundial de futebol. Um trio de protagonistas que atraíram luz, câmera e o comentário do povão. Seu nomes: Vuvuzela, Jabulani e diretamente do aquário, Paul, o polvo vidente.

Em campo, as 32 seleções levaram os seus "melhores". Mais o que seria do hermano uruguaio Forlán e do goleiro-frango inglês Green se a bola não existisse. Para um, Jabulani foi mãe, para o outro madrasta. E assim ela caiu na graça, bateu na trave e foi ovacionada no momento do gol. Para os brasileiros ela era de outro mundo, um ser sobrenatural. Como disse o Cid Moreira: Jaaabuuulaaaaaanii. Bruxa para o goleiro, fada nos pés do artilheiro. Por 145 vezes, jabulani entrou na caçapa e o grito foi de gol. Grito? Barulho? Não, a comemoração foi mesmo no sopro. No sopro da Vuvuzela. Uma verdadeira caixa de marimbondos que entoava as comemorações das torcidas. E nem precisava ter gol para ouvir aquele barulho, digamos que, irritante, mas tipicamente africano. O jeito africano de celebrar o futebol e sediar o maior evento esportivo do mundo, que atravessou as barreiras continentais.

No Brasil ou no Japão, na Itália ou na Coréia do Norte, lá estava a vuvuzela embalando a emoção do torcedor. Nas ruas, nos bares e em toda esquina, os comentários eram únicos: futebol, futebol e futebol. Bolão para todo lado. Quem ganha esse jogo? Quem marca o gol? Quem levanta a taça? Teve gente que se transformou num expert em futebol. Analisava a partida, fazia o comentário e dava palpite: "Acho que quem vai ganhar essa copa é a Alemanha. O time está impecável é uma seleção com média de idade baixíssima, os caras correm que nem passarinho. Eu aposto todas as minhas fichas neste time". Deu com os burro n'água. E foi da água, do áquário de Oberhausen (na Alemanha) que a versão molúscula da Mãe Dinah surgiu. Com seus tentáculos misteriosos e com uma aparência medonha, Paul - o polvo vidente, acertou todos os ganhadores dos jogos que fez previsões. Ainda bem que Iniesta e Paul estavam, um no jogo e outro no palpite, com a Fúria espanhola.Depois de um mês e encerrado este evento que arrasta multidões e que mexe com os nervos, com o emocional e com a alegria das pessoas, a gente sente até falta de copa do mundo. Agora é só daqui a quatro anos. E poderemos acompanhar esta festa do terreiro da minha, da sua e da casa de qualquer brasileiro. Paul não deve viver até lá. Jabulani aposentou nos jogos da África e deve mandar uma irmã mais nova e mais tecnológica para 2014. Já a vuvuzela, pode ser que dure, mas certamente ganhará a companhia do tambor, do batuque e do agogô. Retoques tipicamente brasileiros, para uma copa no Brasil e movida por uma nação de apaixonados por futebol, cujo espetáculo já está garantido. Sai o Waka Waka - e viva a África! - e chega o "Brasileirinho". É ritmo, é paixão, é arte, é hora de trabalhar, 2014 já pede passagem.

10 de julho de 2010

Sapiência

Immanuel Kant escreveu em seu ensaio "O que é o esclarecimento?", a expressão Sapere Aude que signifca "ouse saber". Sem dúvidas, explorar o mundo e seus pertences nos ajuda a adquirir bagagem o suficiente para começarmos a interpretar, a entender e a criar a ciência das coisas. Um profundo determinismo, que elabora e cria conceitos. A maior riqueza do ser humano é poder conhecer e argumentar sobre as coisas. É a dimensão do contestar, do debater e do pensar. O conhecimento se constrói no tempo e no espaço, no aqui e no agora, no passado e no presente. Ele morre quando você morre, e te acompanha até o cemitério - inseparável. Existem pessoas que transformam sabedoria em status, e é aí que mora o problema. Lembro de uma parábola que basicamente, resume esta ideia:

Um professor, muito culto e preparado, com vários doutorados, resolveu um certo dia, passear. Alugou um pequeno barco para conhecer a paisagem em volta da cidade. Durante o caminho estabeleceu uma orgulhosa conversa com o pescador:
-"Você sabe ler e escrever?"
-"Não senhor, não sei". - respondeu com simplicidade o pescador.
Com ar de superioridade, o professor disse: "Você perdeu metade de sua vida por não saber ler e escrever".
Cabisbaixo, um pouco humilhado, o pescador continuou o percurso. Mas o professor não parava de perguntar:
-"Você entende de negócios, de política?"
E o pobre pescador respondia: -"Não senhor, só entendo de peixe".
Ironicamente o professor disse: -"Você perdeu mais uma parte de sua vida".
Neste momento, no meio do rio, uma pedra atinge o barco e o pescador perguntou: -"Você sabe nadar?". -"Não", respondeu o professor.
-"Pois então o senhor perdeu a vida toda, o barco está afundando".

A sabedoria não é um produto que se disponibiliza em mercado. Não se compra e nem se vende. Se adquire. Ser sábio não está nos livros, nos títulos, nos diplomas e nas medalhas. A sabedoria está na vivência e na prática, e sobretudo no servir aos demais Cristo nos disse que aquele que deseja ser o primeiro, deve ser o último. É preciso conhecer tudo, mas com humildade e compaixão, sem espírito de superioridade e altivez. O verdadeiro sábio utiliza sua sabedoria com sabedoria.

2 de julho de 2010

Brasil: do futebol e dos brasileiros

Nunca o Brasil é tão Brasil como em época de Copa do Mundo. Pelas ruas, o verde e o amarelo vão ganhando destaque e tomando o espaço. Desfilar com a camisa da seleção é patriotismo, balançar a bandeira é torcida, gritar GOL é desejo e empolgação. Todos este apetrechos que paramentam e compõe o figurino do torcedor saem dos armários de quatro em quatro anos. "É a melhor seleção do mundo!", "Brasil vai ser campeão concerteza!", "Vamos ganhar de goleada" são os clichês mais ouvidos do Oiapoque ao Chuí, e com razão. Os cinco campeonatos conquistados, a hegemonia do futebol mundial, a fábrica de craques, parece nos convencer que nós somos os "fodões" da bola, os favoritos incontestáveis ao título, as mãos que sempre segurarão a taça. A expectativa é sempre a mesma. Campeão e Brasil no dicionário do futebol e do povo brasileiro são palavras sinônimas. Num país onde a fome e a sede matam, a educação e a saúde carecem, onde a política é marcada pela corrupção e a segurança uma incógnita, parece ser o futebol a linha e a agulha que une uma nação que, nesta época, não se intimida em dizer: "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!". Seleção em campo, país parado e acompanhando os 90 minutos de bola rolando. Aula, trabalho, cirurgia, exame, depósito bancário e velório ficam para depois, é hora de ver os mestres da bola, canarinhos do futebol que alçam voos em direção ao gol. 23 jogadores que representam uma nação de corações unidos numa mesma voz. Voz que grita, que torce, que critica, que chinga, que se desespera e que comemora.

Temos a convicção que o futebol é produto genuinamente brasileiro, e que nem sempre, o vento sopra a favor. Temos o dom, mas as vezes o dia não favorece. O futebol é carrasco. Arma a arena, põe a torcida e solta os gladiadores. No duelo de gigantes, apenas um sai com a vitória e com a glória. Glória essa, que mais uma vez ficou pelo caminho. Foram quase quatro anos acompanhando a "Era Dunga". Quatro anos de ensaio para fazer bonito e soltar o grito do hexa que ficou preso em 2006. Revolução geral. O "professor" não gosta de bagunça. Comprometimento e dedicação à camisa é a palavra da vez. No meio do caminho não tiveram pedras, pelo contrário, a família do Dunga estendeu-se aos sete anões. Depois de sagrar-se campeã nos torneios que disputou (ô costume triste que nos persegue...), Copa América em 2007 e Copa das Confederações em 2009, a seleção chegou na África do Sul para o seu maior teste. E a história, a história está bem fresca na sua memória. O gladiador vestiu laranja e na fragilidade do adversário, cortou-lhe o pescoço. O pescoço de um time, de uma técnico e mais 190 milhões de pessoas que distante dali, a cinco fusos horários a oeste, viu a cena que não gostariam de ver: O Brasil eliminado de mais uma copa. O momento não é de culpa, julgar ou responsabilizar a derrota nas costas de ninguém. A eliminação não representa o fim de um futebol vitorioso, invejável e respeitado. Esse espírito de nação deve permanecer firme e forte para o próximo compromisso, que querendo ou não, obrigado ou não, acontece daqui a três meses. O compromisso da urna, da cidadanida e da democracia e que será responsável pelas decisões e pelos rumos tomados nos próximos quatro anos. E por falar em quatro anos, vamos viver intensamente o espírito brasileiros nos próximos 1450 dias, quando em casa, nos prepararemos mais uma vez para jogar junto com nossa seleção e quem sabe, dessa vez, soltar o grito de campeão. É neste mesmo entusiamo que vamos correr atrás de um país melhor, que fará de mim, de você e de todos nós, brasileiros que acreditam em brasileiros e em seu país, e que além do futebol, dão show de garra e superação. Que o Brasil das copas, seja o Brasil dos próximos dias: um Brasil 100% brasileiro.


1 de julho de 2010

Com a palavra: James C. Hunter

Encontrar e depositar no próximo a alegria de viver, certamente é um dos comportamentos mais nobres do ser humano em relação ao seu semelhante. Descobri a dádiva que existe por detrás de sorrisos, olhares e gestos, revela a importância que os demais tem para nós. As vezes tudo isso passa desperecebido por nós, mas nunca é tarde para começar a observar. Somos diferentes, mas ao mesmo tempo tão parecidos que acabamos por notar erros, adversidades e encontramos no outro aquilo que é excessivo em nós. Ninguém escapa ileso deste quesito. A gente sempre repara e dá destaque ao erro e defeitos daqueles que estão ao nosso redor. Há muito tempo, um livro não havia me ensinado lições tão simples e tão significantes, que me fizessem refletir sobre o meu comportamento com as pessoas com as quais me relaciono.
Confesso que as sensações não foram as melhores, afinal, tinha sido muito mais carrasco que defensor, muito mais rádio que microfone, muito mais eu do que eles. O monge e o executivo chegou como um presente de aniversário atrasado e me foi dado por uma pessoa extremamente especial. Alguém com quem aprendi muito ao longo deste tempo e que compartilho o meu crescimento. Achei que essa seria mais uma história de superação, uma metáfora de vida ou uma espécie de brochura com palavras bonitas. Pelo contrário, consegui enxergar erros e falhas que me transformavam numa pessoa egocêntrica e impaciente.
O livro presenteou com atitudes que podem mudar, ou pelo menos contribuir com renovações para minha, para a sua e para as nossas vidas. Transformar água em vinho, eu diria, ou ainda, correr atrás do prejuízo. Em O monge e o executivo, livro de James C. Hunter, as ferramentas para uma liderança e para relacionamento sólidos nos são passadas através de uma literatura simples e cativante, onde amor e humildade, e sobretudo SERVIÇO são atitudes que nos levam ao encontro da felicidade. Felicidade pessoal e coletiva que nos faz sentir melhor como gente e nos aproxima do divino.