7 de dezembro de 2010

Bastidores

Ser jornalista não é uma coisa tão simples. Os bastidores de uma reportagem sempre mostram a dificuldade encontrada pelo repórter para levar tudo claro e entendido para o leitor. O texto de hoje se encaixa nesta ideia. A princípio, ele foi feito para uma das disciplinas da faculdade, mas resolvi compartilhar com vocês aqui. Dá uma olhada aí no que a gente passa...

Making Of: Os bastidores da reportagem

Já dizia o personagem Giovani Improta da novela “Senhora do Destino”: “O tempo ruge e a Sapucaí é grande”. O jargão que ficou famoso no Brasil durante a exibição do folhetim global é o “abre-alas” dos bastidores de nosso trabalho integrado. Fazer jornalismo é semelhante à preparação de uma escola de samba que vai entrar na avenida.

Carro alegórico, fantasia e o som da bateria balançam a plateia que contagiada entra no ritmo e cai na dança. A escola durante a sua passagem, tem que desfilar impecável pelo sambódromo e arrastar a multidão. O jornalista é o mestre-sala e sua matéria a porta-bandeira. Sua função é sambar diariamente na busca da melhor matéria, dos melhores personagens e saber encantar seu leitor com um gingado textual, que faça o leitor viajar em cada letra do texto.

Sambamos, rebolamos, dançamos e desfilamos com nossa escola. Nosso trabalho surgiu nas discussões de sala de aula. A princípio gostaríamos de fazer algo sobre a Leishmaniose, porque a cachorrrinha da Carla, coitada, está infectada pela doença. O Carlos evitou ao máximo fazer alguma matéria sobre área social. E a Fernanda, entrou na linha pacificadora adotando a política do “qualquer tema eu faço”.

Depois de muita conversa, muitas discussões chegamos ao tema da Poluição. Apesar do assunto ser bem clichê e estar em evidencia, gostaria de reunir em uma única reportagem os tipos de poluições que os moradores de Belo Horizonte são obrigados a conviver diarimente.

Nossa escola fez o samba enredo. Dividimos as tarefas: Carlos se encarregou de escrever a proposta do tema e Fernanda e Carla a pauta. Tema e pauta aprovados foi a hora de cair na avenida e mostrar o gingado. A carnavalesca Sandra Freitas deu as dicas, passou contatos e nos ajudou a criar a linha de abordagem da matéria.

Junto a este carnaval, os trabalhos da faculdade também desfilavam paralelamente. No meio da avenida, as prioridades do grupo se inverteram. “Temos que fazer o ensaio de fotografia, a prova do José Márcio é amanhã, José Maria vai dar exercício de diagramação”, foram as desculpas que empurraram o trabalho integrado.

Nesta hora o fator tempo, que muitas vezes prejudica as escolas em suas pontuações no final do desfile, berrou para a nossa agremiação. A duas semanas da entrega da reportagem foi que o grupo começou a fazer os contatos e marcar as entrevistas. Nesta altura da avenida, o samba-enredo se fechou na poluição visual e nas atividades desenvolvidas na cidade para conter este problema.

Considerando que as principais fontes da matéria eram relacionadas a prefeitura, e sabendo que essas fontes muitas das vezes arranjam muitas desculpas para não atender a imprensa, conseguimos driblar esta questão. Vicente Arhur recebeu a equipe na prefeitura e conversou por mais de duas horas sobre o movimento do qual gerencia, ainda ajudou a contactar com todos os outro órgãos do município responsáveis pela limpeza e resguardo do patrimônio urbano. E fomos.

Fernanda e Carla se encontraram com o secretário municipal de segurança urbana e patrimonial, Corenel Bicalho. Tiverem com ele por mais de uma hora e receberam as informações mais relevantes sobre o assunto. Tiveram também com o pessoal do projeto Guernica, que serviu como assunto de uma das retrancas de nossa reportagem. E o samba continuou...

Para fazer as fotografias o grupo faltou às aulas de jornalismo especializado. Desfilamos pela Rua Padre Eustáquio de cima para baixo atrás de personagens para serem entrevistados e fotografados. Conseguimos falar com algumas pessoas, mas fotos se recusaram a posar. Uma das pessoas entrevistadas foi tão simpática, que convidou o grupo a entrar na sua casa para poder conversar. Tivemos que bater de porta em porta, atrás de personagens que ilustrassem o dilema da pichação.

A bateria aquecia o som e o tempo pedia a evolução da agremiação. Passamos para a escrita da reportagem, na qual cada um ficou responsável por uma parte. Mas nem tudo são flores, e nesta etapa da matéria o grupo entrou em conflito. Faltando algumas horas para o desfile acabar, tivemos que recomeçar do zero, deixar as divergência e escrever o texto de novo.

Fazer carnaval não é fácil, agitar a plateia muito menos. O desempenho de uma escola de samba se dá nas notas que ela obtém na apuração. E quanto a isso, apesar de tanto esforço, cobranças, desentendimentos, agradamos os jurados: “Acadêmicos da Poluição Visual, nota 30!”.

Desta atividade fica a lição do planejamento, da dedicação e do trabalho de antecedência. O sucesso de uma escola de samba só acontece devido aos planejamento que começa logo no fim de um carnaval, ou seja, a um ano antes dela entrar novamente na avenida. O tempo passa e ela tem que dar conta, tem que ser a melhor, pois as pessoas a aguardam na arquibancada para aplaudir, sambar, fazer festa, afinal, a alegria do carnaval, e também do jornalismo, está no encantamento, está no show que ambos podem fazer. Um show que não pode parar.

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