Alma lavada de água e sal
"Nenhuns olhos têm fundo; a vida, também, não."
Às vezes fico imaginando como vai ser quando o presente for passado. É como se perder num momento qualquer, num futuro que só permite ser ver o que é genérico. Uns vultos completamente disformes de conteúdo desconhecido. Cada rosto do presente foi no passado uma projeção do futuro. E assim, pela intensidade de todas as coisas, rolam em direções difusas gotas que carregam consigo o que não se pode controlar. Sentir é de lágrima. Da partida ao reencontro, chorar é refúgio explícito da alma. De alegria ou tristeza, da angústia ou euforia até a saudade que se dirige ao que não se pode alcançar, derramar lágrimas é dar ao mundo a dimensão do sentimento sem precisar de nenhuma palavra. Os olhos é que dizem. Chorar é de tudo, o que há de mais humano. Somos reais, carne, osso e sangue nas veias. Uma mistura de todos os clichês e ilusões. Choro é segredo, é alarme, é defesa, é ataque. É negar veementemente a realidade que insiste mesmo quando não é bem-vinda. Ou comemorar a chegada do que há muito se esperava. Uma espécie de reclamação silenciosa ou vitória saboreada intimamente. É problema e solução. Subjetividade máxima. É coisa de quem se inunda de sentimentos. Ou é só água salgada. E retomo os pensamentos sobre o presente que será passado no futuro. A realidade hoje é alegria, alegria. Já tenho até saudade do que ainda não passou. E saudade é motivo para chorar. Por ontem, por hoje e pelo amanhã que logo será hoje também. Assumo. Eu, dona da lágrima de contentamento de quem toma as rédeas da vida e aprende a dizer sim a esses dias de céu azul que ultrapassam os limites das órbitas. Alma lavada de água e sal. Vida.
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