5 de abril de 2010

Inspiração Barroca

Passado os feriados e as celebrações de uma semana completamente espiritualizada, a rotina volta ao normal. Mais trabalhos, mais atividades, mais perto de se alcançar os sonhos. Hoje, de modo bem especial, quero fazer uma postagem diferente. Uso as palavras do baiano Gregório de Matos Guerra (1636-1695), vulgo Boca do Inferno. Segundo o livro Novas Palavras, dos autores Emília Amaral, Mauro Ferreira, Ricardo Leite e Severino Antônio: "Foi tão tumultuada a vida do poeta baiano que um biógrafo chamou-a de vida espantosa".

A poesia barroca de Gregório de Matos, ainda que em princípio, maldizente e maliciosa, é marcada também por um toque sacro. Um tom sagrado que tomou as palavras e produziu um dos textos mais bonitos que já tive a oportunidade de ler. Divido agora com vocês o texto e faço a indicação para que leiam mais sobre este expoente nome do barroco literário nacional:

Pequei, Senhor, mas não porque hei de pecado,
Da vossa piedade me despido,
Porque quanto mais tenho delinquido,
Vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto um pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido,
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisongeado.

Se uma ovelha perdida, é já cobrada
Glória tal, e prazer tão repentino
vou deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada
Cobrai-a, e não quereiais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

(Gregório de Matos.Op.cit.pág.48.)

Um comentário:

  1. Tão sintético e com conteúdo tão denso. É bem a sua cara mesmo.

    :)

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