26 de fevereiro de 2010

O preço da solidão, o sofrimento de ser Solitário!

Os reality shows tomaram conta da televisão. Este tipo de programa, que explora a realidade e a transforma em um grande espetáculo, vêm conquistando um público cada vez maior. Espiar pessoas isoladas em uma ilha, numa casa ou sujeitas a todos os tipos de perigo põe o ser humano em contato com as suas próprias limitações e isto desperta a atenção do espectador. Talvez esta seja a justificativa de seu sucesso. Quem se submete a participar de tais programas, geralmente, é atraído por prêmios milionários, pela oportunidade de fazer seu nome, de divulgar o seu trabalho e de se sentir reconhecido. Nada mais que uma porta que conduz ao estrelato, ou pelo menos, a 15 minutos de pseudo-celebridade.
O formato reality show fez da televisão uma extensão dos domínios sociais. Em outras palavras, projetou na telinha o convívio do ser humano com seus limites e com o próximo. Histórias de gente, para gente. Mas como todo produto televisivo, a fórmula se esgotou e inovações foram feitas para tornar estes programas mais emocionantes e atraentes. Porém, o que se viu foi uma queda drástica em seu conteúdo. Os reality shows gostaram tanto de explorar a figura humana, que transformaram este apreço, numa forma velada de violência.
Criado em 2006, nos EUA e produzido no Brasil pelo SBT, o reality show Solitários consiste em isolar nove pessoas, cada uma em uma cabine de 3m² cercada de câmeras, e colocá-los diante de suas condições físicas e psicológicas. Uma espécie de experimento social, na qual um computador controla todas as atividades dos participantes. A recompensa para aquele que sobreviver sozinho e resistir aos controles e imposições da máquina, é a quantia de 50 mil reais em barras de ouro.
O que Solitários oferece ao telespectador brasileiro em horário nobre, é um espetáculo de flagelação e barbaridade contra a pessoa humana. Nem o Brasil Urgente, da Rede Bandeirantes, com suas reportagens sensacionalistas e com os esguichos de sangue que espirram no aparelho televisor, produz tamanha covardia aos olhos. Eu explico o porquê.
Apesar de mostrarem imagens impactantes, os programas policiais relatam o clímax da intolerância em nossa sociedade e que deve ser mostrado. Não ponho em pauta a linguagem utilizada, mas estes programas reafirmam o compromisso do jornalismo. No reality show em questão, a violência é consentida, permitida e voluntária. Simplesmente os participantes se submetem ao sofrimento e a privação em troca de algumas barras de ouro.
Em Solitários a desconfiguração e a desvalorização da pessoa humana é nítida. De cara os participantes perdem seus nomes. Suas identidades são jogadas abaixo. São chamados pelo número de suas cabines. Perdem completamente o controle sobre si mesmo, sobre suas atitudes, sobre a condição de ser gente. Não bastasse isso, a única pessoa com quem interagem é uma espécie de inteligência artificial, de nome bastante sugestivo: Val. Ela é o protótipo do que foi a HAL-9000 no filme 2001: Uma odisséia no espaço, de Stanley Kubrick. As coincidências não ficam apenas no nome das personagens, mas no domínio que elas exercem sobre os indivíduos: uma no jogo e a outra no filme.
As barbáries são justificadas pelas provas que os cobaias – com todo respeito a expressão – se submetem. Vestir 58 camisas de tamanhos diferentes uma sobre a outra, ficar descalços sobre uma plataforma de pregos, colar selos pelo corpo com saliva, sentar em uma cadeira elétrica com uma mordaça na boca, colocar 60 pregadores pelo corpo, caminhar sobre pedras e mergulhar a cabeça em um tanque com água para memorizar um texto, foram provas pelas quais os participantes tiveram de passar. Elementos capazes de desmoronar a estrutura mental e física de qualquer um.
O preço da solidão e a ambição pelo dinheiro, transformam as vidas de pobres mortais num verdadeiro inferno. Ou se submetem as provas impostas, pela voz encantadora e maligna de Val, ou são excluídos do jogo. Victor Hugo, escritor francês, já dizia: “Todo o inferno está contido nesta única palavra: solidão.” E ninguém contesta esta enunciação após assistir ao programa.
Produtos como este, desperta no telespectador, a dor e o sofrimento na pele. Causa aflição e desespero. Solitários inaugura uma série de questionamentos a cerca da pessoa humana e aos fatores aos quais se submetem para conquistar alguma coisa. Outro destaque, mesmo que figurado, extraído deste programa-experiência é o controle da máquina sobre os homens. E assim, algumas perguntas vagam pelo ar: Até que ponto as tecnologias pautam nosso comportamento? Até que ponto perdemos nossas características enquanto pessoas? Estaria nossa liberdade entregue as novas tecnologias?
A televisão precisa resgatar formatos de programas que dignificam os indivíduos da maneira que são, e não os ridicularizem ou humilhem em rede nacional. Mesmo existindo pessoas que aceitem participar de atitudes como essa, o telespectador merece chegar em casa e assistir uma programação de qualidade e que não reproduza na tela, a violência, o desrespeito e a opressão que ele acompanha diariamente em sua vida real e da qual já está cheio.

Um comentário:

  1. Eu preciso caracterizar o domínio humano e natural das altas latitudes do Hemisfério Norte, nas regiões próximas ao Circulo Polar Ártico. Mas não tem isso em nenhum site voces poderiam melhorar isso einh!!!

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