18 de janeiro de 2010

A vida manda recados

Nem sempre as coisas tomam o rumo que desejamos. Às vezes, por conta do destino ou por interferência de algumas pessoas, desviamos nossos caminhos e mudamos a rota para novos horizontes.
Voltando para casa depois de um intenso e estressante dia de trabalho, me deparei com um grande outdoor que trazia a seguinte mensagem: “O momento de ser feliz é agora!”. Achei um pouco maluco uma propaganda de frigorífico vir com uma frase daquelas, mas levando em conta as ideias dos publicitários de hoje em dia, vi que realmente tudo é possível.
Continuei minha caminhada. Ainda faltava cerca de uns 2.000 metros, que no relógio equivalem há aproximadamente 15 minutos (andando rápido, claro). Por acaso, encontrei um antigo amigo, que há muito tempo não via. Estudamos juntos os primeiros anos do colegial e depois ele teve que se mudar para Manaus. Seu pai era controlador de voo e foi transferido para a base da Aeronáutica de lá. De sua partida até aquele momento, passaram-se uns 12 anos. Parei para conversarmos, relembrar os momentos em que estudávamos juntos, discutir um pouco sobre política e comentarmos os resultados dos jogos da rodada do campeonato de futebol. Fiquei por ali cerca de uns cinqüenta minutos, embora ainda tivesse alguns afazeres no meu apartamento – rotinas básicas para um indivíduo que trabalha o dia inteiro e mora sozinho.
Cheguei ao meu aconchego, tirei meu paletó, a gravata que me sufocava, a camisa toda suada e a calça manchada de barro. Talvez se eu fosse de carro, minhas roupas não estariam naquela situação, pensei comigo. O veículo estava para oficina e ir a pé para o trabalho com certeza, era a melhor opção. Aproveitei para lavar peças que se encontravam no tanque por alguns dias e algumas louças que já mofavam sobre a pia.
Passei um pano para lustrar os móveis, lavei o banheiro e enfim, fui arrumar alguma coisa para comer. Nesta altura do campeonato, já estava varado de fome e se não fizesse isso, certamente desmaiaria. Comecei a saciar com voracidade aqueles dois pães com presunto e mussarela, como se fossem os últimos alimentos do mundo. O apetite era tão grande, que ainda consegui comer um pacote de waffer.
Tudo pronto. Casa limpa, estômago cheio. Liguei a televisão para ver as notícias. Naquele dia, empresas automobilísticas firmaram um acordo para injetar na economia brasileira, cerca de 1 bilhão de dólares de investimento, e eu, estava diretamente envolvido com isto. Detalhes do meu ofício.
A informação passou, o jornal foi para o intervalo, e mais uma vez me deparei com a propaganda do frigorífico, agora na televisão. Mais uma vez a frase apareceu para meus olhos e desta vez, me pegou pela culatra. Algum propósito aquela mensagem me trazia.
Desliguei a TV e fui para o meu quarto, a mensagem também. Me coloquei a pensar sobre o sentido daquelas palavras que juntas, formavam um significado para minha vida. Eu estava completamente isolado do mundo há quase duas semanas. Me fechei em copas e não quis saber de ninguém. Ir ao trabalho era uma obrigação, que infelizmente eu tinha que cumprir. Tentei ser o mais educado possível com o amigo que não via a tempos, mas quer saber, não via a hora de acabar aquela conversa. Desliguei meu telefone, não abri meus e-mails, ignorei as chamadas dos meus pais, recusei os convites de festas de meus amigos e nem conversei com a Clarice, minha namorada e futuramente, se ela não terminasse comigo, minha mulher. Até o Ulisses, meu papagaio, fiel companheiro de apartamento, sofreu com meu isolamento.
Eu queria era desaparecer por completo, esquecer que um dia eu existi e sumir de uma vida, que até então, não me agradava. Meu apartamento é um luxo, se localiza numa das regiões mais nobres da cidade, ocupo um dos cargos mais cobiçados da minha empresa e tenho um salário de se invejar. Para que tudo isso? Essa foi a pergunta que eu mesmo me fiz, e quando cheguei a conclusão que eu era um infeliz, já estava neste casulo sem saídas. Tinha tudo e ao mesmo tempo, não tinha nada.
A frase da propaganda clareou meus pensamentos sobre a noção de felicidade. Toda a tristeza que trago comigo vem do passado. Embora ele tenha ficado lá atrás, vira e mexe, ele me assola a consciência e me deixa nesta depressão profunda. Isto é fruto de uma vida de arrependimentos, de idiotices juvenis, marcadas por atitudes, que hoje, julgo erradas. Talvez se pudesse voltar no tempo, não tivesse feito nada do que fiz. Muitas das pessoas ainda hoje, apontam estes meus vacilos que me deixam deprimido. Na verdade, fico remoendo as mágoas e as tristezas do que já passou. Aquela propaganda me fez pensar um pouco sobre meu conceito de felicidade.
No passado, abandonei minha própria felicidade por causa das opiniões e dos conceitos dos outros. Foi uma atitude forçada, do tipo sobrevivência pela qual tive que me submeter. Aos poucos me habituei a realidade que queriam me impor e hoje posso dizer categoricamente, que conseguiram. Ainda sinto as angústias desta felicidade que abandonei, mas tenho certeza que o tempo me ajudará a cessá-la.
Voltei à cozinha. Lembrar as coisas pelas quais passei me deu sede. Talvez a água purificasse e lavasse a minha vida. Tomei dois copos cheios e retornei para o quarto. Neste trajeto, resolvi passar pela sala para pegar um livro que estava sobre o móvel. No chão, encontrei um bilhete, cuja procedência desconheço, que em letras garrafais trazia escrito: “Embora ninguém possa fazer um novo início, todo mundo pode reescrever a sua história e criar um novo fim. Todo dia é dia de recomeçar.” Pronto, mais um tapa na cara em menos de 24 horas. E este último de maneira sobrenatural, digamos assim.
Por mais duro que fosse eu estava diante de uma situação que me convidava a mudar. Todas aquelas mensagens me trariam um novo estímulo e uma nova força para ser feliz. Não poderia negar aquela oportunidade que Deus e a própria vida estavam me concedendo.
Uma energia enigmática me dominou. Por alguns longos minutos, meu coração bateu mais acelerado, as lágrimas saíram sem parar de meus olhos, as mãos transpiravam, e como num passe de mágica, minha memória ia “deletando” todas as lembras negativas que tinha. Desmaiei.
Fui dominado pela força que nos faz recomeçar sempre, por uma força eficaz e inexplicável que nos convida a fazer diferente, em uma nova oportunidade. Acordei uma nova pessoa. Eu estava mais bonito, mais alegre, mais feliz, de bom humor para os amigos, para minha namorada (que depois de uma longa conversa, perdoou a minha ausência nas duas últimas semanas), para o Ulisses, que voltou a falar mais.
Os dois sinais que recebi aquele dia me ajudaram a libertar a minha vida das trevas e daquilo que já passou. Hoje caminho mais confiante, sem medo de errar. Sou feliz com as pequenas coisas: com o sol que nasce todas as manhãs, com os pássaros que rodeiam a minha sacada, com o pão com presunto e mussarela que como todos os dias quando chego do trabalho, com meus pais, com a chuva que lava meus vidros, com as vasilhas que acumulam na pia. Descobri o significado da minha vida. Se eu errei, não importa. Meu dia é hoje. O agora me faz, assim como a fênix, ressurgir das cinzas, mais forte, mais determinado e com mais vontade de ser feliz e viver. Todo mundo pode mudar, e eu, mudei!

Preste atenção aos sinais que a vida e Deus lhe dão. Talvez você esteja tão preocupado com outras coisas que nem presta atenção nos pequenos detalhes. Às vezes um conselho, uma palavra amiga, uma propaganda, um bilhete que aparece do nada, podem trazer mudança positivas para a sua vida. E lembre-se sempre, todos os dias nascem com a esperança de um novo começo. Não importa o que você fez e o que você é. Se quiser mudar e recomeçar, agora é o momento, o seu momento!

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