
Um abençoado e maravilhoso ano novo para todos nós!
Um espaço onde as ideias surgem e se concretizam em palavras. Território do pensamento e da expressão. Mais que um blog, um Domínio Particular.
O beijo é a coisa mais íntima de uma pessoa. Eu o vejo assim. Mesmo com a banalização das coisas, da pegação e do tudo liberado, eu acredito que essa é coisa mais única e mais importante que as pessoas podem oferecer. Em primeiro plano, claro. As outras se conquistam com o tempo. Beijo é a porta de entrada. Nenhum casal começa sem antes se beijar, exceto alguns dos velhinhos que eu conheço, que tiveram seus casamentos arranjados. Ainda bem que os tempos mudam. Mas beijo é igual gosto, cada um tem um tipo. Um beijam bem, outros muito bem. Tem beijos intensos, inesquecíveis e com gosto de bis, de quero mais. O beijo é tão particular e ao mesmo tempo tão singular que faz a gente se apaixonar. É difícil até de escrever. Beijar não é bom, é bótimo. Essa lição que aprendi com o trabalho das prostitutas. Elas vão lá fazem mundos e fundos, literalmente. Se vendem como produtos de vitrine mas não beijam seus clientes. Eu sei que nem todas fazem isso, mas a maioria delas preservam. Beijar é tão divino que se chega a tocar os céus ou mesmo sentir voar quanto um lábio encontra o seu. E quando se beijar é uma troca, um laço, eu ousaria dizer que é um cordão umbilical. Você sabe que um dia ele tem que ser cortado, mas jamais esquece que você beijou.
Suspirou. Olhou para frente, viu sua imagem projetada no espelho e deu um sorriso. Era preciso continuar. Tomou seu chá e foi aproveitar as belezas que aquele dia, e a vida, lhe oferecia.
Já dizia o personagem Giovani Improta da novela “Senhora do Destino”: “O tempo ruge e a Sapucaí é grande”. O jargão que ficou famoso no Brasil durante a exibição do folhetim global é o “abre-alas” dos bastidores de nosso trabalho integrado. Fazer jornalismo é semelhante à preparação de uma escola de samba que vai entrar na avenida.
Carro alegórico, fantasia e o som da bateria balançam a plateia que contagiada entra no ritmo e cai na dança. A escola durante a sua passagem, tem que desfilar impecável pelo sambódromo e arrastar a multidão. O jornalista é o mestre-sala e sua matéria a porta-bandeira. Sua função é sambar diariamente na busca da melhor matéria, dos melhores personagens e saber encantar seu leitor com um gingado textual, que faça o leitor viajar em cada letra do texto.
Sambamos, rebolamos, dançamos e desfilamos com nossa escola. Nosso trabalho surgiu nas discussões de sala de aula. A princípio gostaríamos de fazer algo sobre a Leishmaniose, porque a cachorrrinha da Carla, coitada, está infectada pela doença. O Carlos evitou ao máximo fazer alguma matéria sobre área social. E a Fernanda, entrou na linha pacificadora adotando a política do “qualquer tema eu faço”.
Depois de muita conversa, muitas discussões chegamos ao tema da Poluição. Apesar do assunto ser bem clichê e estar em evidencia, gostaria de reunir em uma única reportagem os tipos de poluições que os moradores de Belo Horizonte são obrigados a conviver diarimente.
Nossa escola fez o samba enredo. Dividimos as tarefas: Carlos se encarregou de escrever a proposta do tema e Fernanda e Carla a pauta. Tema e pauta aprovados foi a hora de cair na avenida e mostrar o gingado. A carnavalesca Sandra Freitas deu as dicas, passou contatos e nos ajudou a criar a linha de abordagem da matéria.
Junto a este carnaval, os trabalhos da faculdade também desfilavam paralelamente. No meio da avenida, as prioridades do grupo se inverteram. “Temos que fazer o ensaio de fotografia, a prova do José Márcio é amanhã, José Maria vai dar exercício de diagramação”, foram as desculpas que empurraram o trabalho integrado.
Nesta hora o fator tempo, que muitas vezes prejudica as escolas em suas pontuações no final do desfile, berrou para a nossa agremiação. A duas semanas da entrega da reportagem foi que o grupo começou a fazer os contatos e marcar as entrevistas. Nesta altura da avenida, o samba-enredo se fechou na poluição visual e nas atividades desenvolvidas na cidade para conter este problema.
Considerando que as principais fontes da matéria eram relacionadas a prefeitura, e sabendo que essas fontes muitas das vezes arranjam muitas desculpas para não atender a imprensa, conseguimos driblar esta questão. Vicente Arhur recebeu a equipe na prefeitura e conversou por mais de duas horas sobre o movimento do qual gerencia, ainda ajudou a contactar com todos os outro órgãos do município responsáveis pela limpeza e resguardo do patrimônio urbano. E fomos.
Fernanda e Carla se encontraram com o secretário municipal de segurança urbana e patrimonial, Corenel Bicalho. Tiverem com ele por mais de uma hora e receberam as informações mais relevantes sobre o assunto. Tiveram também com o pessoal do projeto Guernica, que serviu como assunto de uma das retrancas de nossa reportagem. E o samba continuou...
Para fazer as fotografias o grupo faltou às aulas de jornalismo especializado. Desfilamos pela Rua Padre Eustáquio de cima para baixo atrás de personagens para serem entrevistados e fotografados. Conseguimos falar com algumas pessoas, mas fotos se recusaram a posar. Uma das pessoas entrevistadas foi tão simpática, que convidou o grupo a entrar na sua casa para poder conversar. Tivemos que bater de porta em porta, atrás de personagens que ilustrassem o dilema da pichação.
A bateria aquecia o som e o tempo pedia a evolução da agremiação. Passamos para a escrita da reportagem, na qual cada um ficou responsável por uma parte. Mas nem tudo são flores, e nesta etapa da matéria o grupo entrou em conflito. Faltando algumas horas para o desfile acabar, tivemos que recomeçar do zero, deixar as divergência e escrever o texto de novo.
Fazer carnaval não é fácil, agitar a plateia muito menos. O desempenho de uma escola de samba se dá nas notas que ela obtém na apuração. E quanto a isso, apesar de tanto esforço, cobranças, desentendimentos, agradamos os jurados: “Acadêmicos da Poluição Visual, nota 30!”.
Desta atividade fica a lição do planejamento, da dedicação e do trabalho de antecedência. O sucesso de uma escola de samba só acontece devido aos planejamento que começa logo no fim de um carnaval, ou seja, a um ano antes dela entrar novamente na avenida. O tempo passa e ela tem que dar conta, tem que ser a melhor, pois as pessoas a aguardam na arquibancada para aplaudir, sambar, fazer festa, afinal, a alegria do carnaval, e também do jornalismo, está no encantamento, está no show que ambos podem fazer. Um show que não pode parar.
Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder seguir
É preciso chuva para florir
Sinto que seguir a vida
Seja simplesmente
Conhecer a marcha
E ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou
Cada um de nós compõe
A sua própria história
E cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
"Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio
marque meia-noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo... ou agradecer às águas por
lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro... ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde... ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria.... ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar.... ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com as tarefas da casa... ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.
Posso lamentar decepções com amigos... ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim."
Gostaria de ocupar-me dele: chamar alguém, pedir-lhe que o examinasse, que receitasse, encaminhá-lo para um tratamento… Mas tudo é longe, meu Deus, tudo é tão longe. E era preciso passar. E ele estava na minha frente, inábil, como envergonhado de se achar tão sujo e doente, com o envelhecido olhar numa espécie de súplica. Até o fim da vida guardarei seu olhar no meu coração. Até o fim da vida sentirei esta humana infelicidade de nem sempre poder socorrer, neste complexo mundo dos homens. Então, o triste cãozinho reuniu todas as suas forças, atravessou o patamar, sem nenhuma dúvida sobre o caminho, como se fosse um visitante habitual, e começou a descer as escadas e as suas rampas, com as plantas em flor de cada lado, as borboletas incertas, salpicos de luz no granito, até o limiar da entrada. Passou por entre as grades do portão, prosseguiu para o lado esquerdo, desapareceu.
Ele ia descendo como um velhinho andrajoso, esfarrapado, de cabeça baixa, sem firmeza e sem destino. Era, no entanto, uma forma de vida. Uma criatura deste mundo de criaturas inumeráveis. Esteve ao meu alcance, talvez tivesse fome e sede: e eu nada fiz por ele; amei-o, apenas, com uma caridade inútil, sem qualquer expressão concreta. Deixei-o partir, assim, humilhado, e tão digno, no entanto; como alguém que respeitosamente pede desculpas de ter ocupado um lugar que não era o seu.
Depois pensei que nós todos somos, um dia, esse cãozinho triste, à sombra de uma porta. E há o dono da casa e a escada que descemos, e a dignidade final da solidão.