19 de janeiro de 2010

Com a palavra: Mv Bill e Celso Athayde

O falcão é nome comum dado as variadas espécies da família Falconidae. O que o diferencia das demais aves de rapina é a habilidade desenvolvida nos voos em velocidade, o que favorece a caça em lugares abertos. Por isso os falcões preferem montanhas e penhascos (principalmente) para viverem.
Do alto da favela, meninos adolescentes observam a movimentação na comunidade. Estão a serviço do tráfico de drogas. Com armas e munição nas mãos, caminham de um lado para o outro, observando as “possíveis” presas que aparecerão em seu caminho. Não dormem e mal se alimentam. Vidas entregues ao mercado do crime e da violência.
Eles têm sonhos: querem uma história digna, querem constituir suas famílias, querem casa e carro, querem espaço na sociedade, não querem cometer mais erros...
Em Falcão – Meninos do Tráfico, Mv Bill e Celso Athayde descrevem os relatos e as histórias destes pequenos sentinelas do crime. O livro, que foi baseado no documentário produzido pelos autores e que leva o mesmo nome, é um verdadeiro panorama da realidade, na qual muitos dos jovens brasileiros estão submetidos. É o retrato de um problema que infelizmente, está embutido e assola nossa sociedade.
A obra procura produzir com fidelidade, todos os depoimentos que foram colhidos. Sem cortes, sem edições, a vida como ela verdadeiramente é. Apesar de servirem ao tráfico, estes jovens relatam suas ambições e os motivos que os levaram a este rumo.

“A nossa sorte e o nosso azar é que a sociedade e os Falcões estão tão sem tempo, que têm que trabalhar e muito nas padarias da vida ou nas bocas do fumo desesperadamente para não morrerem de fome.”
(Página 126)

Ao ler este livro, me lembrei da famosa frase do pensador iluminista Jean Jacques Rousseau: “O homem é bom por natureza, a sociedade é que o corrompe.” Muitos dos problemas que hoje enfrentamos em nosso meio, são frutos de um sistema opressor e cada vez mais seletivo. Aconselho que você leia este livro, não para se deparar com situações semelhantes aquelas do programa do Datena, mas conhecer o lado humano destes jovens do crime.
Estamos acostumados com imagens estereotipadas de que favela é sinônimo de violência, de baderna e de tudo o que é ruim do mundo. A descrição é pesada, fruto de um pensamento elitista. Temos um olhar preconceituoso “de baixo” para “cima”, sem procurarmos compreender os motivos que antecederam as escolhas destes meninos.
Eles não estão no crime por opção, mas porque as diretrizes da vida os conduziram a isso. Claro que você deve estar pensando que existem outros meios a não ser este. Eu também pensava assim. Acontece que o tráfico existe, necessita de mão de obra e está próximo a estes meninos. Eles, por sua vez, sem renda, sem destino e sem família acabam entrando “na onda”. (A empatia te ajudará a compreender, ponha-se no lugar!)
A presença da família na vida destes jovens é mais um comprovante da importância desta instituição na vida dos indivíduos. A maioria dos meninos não tem pai. São poucos os que têm mãe. Os pais foram vítimas da violência e seus filhos trazem consigo as marcas dessa dor. E aí, um ciclo vicioso se forma...
Faço este convite para que você possa tirar toda a poeira que encobre os seus olhos sobre este assunto lendo o livro. Não faço apologia ao crime, pelo contrário, para mim, toda a forma de violência é abominável. Mas permita-se conhecer o outro lado da moeda. Permita-se ouvir, pela leitura, a voz dos falcões de nossas favelas. Bill e Athayde mostram um Brasil que não se vê na televisão, um país que embora esteja ganhando prestígio diante do cenário internacional, precisa garantir a cada cidadão, condições necessárias pra sobreviver com dignidade e justiça.

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